domingo, 27 de setembro de 2009

Pormenores

1 comentário:

  1. Caíste indefesa
    no covil das cínicas facadas,
    sorte madrasta,
    vómito ritual…
    Prodígio fatimida,
    sol resplende.
    Porque não o comercializam
    em embalagens?
    -
    Abelha
    pelas flores sardinheiras,
    pródiga mantença.
    -
    Pelas traseiras, na praceta,
    passavam a cismar uns vultos sós.
    Lembro de que nossas filhas andavam longe:
    A arquitecta p’lo Mar Vermelho,
    a actriz por Barcelona.
    Minha mãe quebrava um braço na Costa Nova,
    quando arrancava flores.
    Isto por inícios de aulas,
    vaguejava o papa p’la Arménia.
    Acabávamos de ver O Carteiro de Pablo Neruda.
    E desabafava:
    Apostada em cuidar-me transes, companheira?
    -
    Sólida árvore coração,
    sólido ar teu olhar,
    sólida ternura meu amor.
    -
    Estremecimentos,
    meiguice,
    o todo morre-se-nos.
    Só somos divinos
    quando admiramos
    O Corpo Total
    dO Cristo,
    afiadíssima adaga
    até à alma.
    -
    Poetar é rezar,
    levar a céus e terra
    versos magoados;
    amor é animada ciência
    de ter Deus,
    sentido para quem abrasa a só candura;
    a música, a luz, a linguagem
    supõem intérprete;
    denote-se quanta fecundidade
    embebe o cosmo.
    -
    Portalegre, Museu da Tapeçaria:
    A caligrafia poética
    consiste em completa teia
    dia a dia tecida com os nós em lã
    das todas as cores que há
    por onde nadam algumas
    vivíssimas sanguíneas gotículas.
    -
    ‘O justo viverá pela fé…’
    Como não cantar aquele a quem Deus basta?
    Homem, palavra, amor, que olhos rasos abre.
    Fé e decisão projectadas a alturas.
    Por ventura lhe falta algum quê?
    Não, supomos, a não ser transpor extremo fim.
    Tudo tem pois em Deus vive exaltante plenitude.
    Novos céus e terra proclame exuberantemente.
    É o homem completo a quem nenhum bem falta.

    ResponderEliminar